quarta-feira, 3 de junho de 2009

Falência, concordata, o que aconteceu com a GM?


A confusão é geral por aqui e pelo mundo afora. A GM faliu, pediu concordata, foi estatizada? Vou tentar explicar o que aconteceu não em economês, mas em português claro e com a ajuda do Aurélio.

Falir quer dizer simplesmente admitir que você não tem dinheiro para pagar as suas contas. Ou seja, como qualquer boa dona de casa e trabalhador sabem, quando se gasta mais do que se ganha, as contas não fecham no fim do mês e o sujeito tem que ir na venda da esquina avisar o dono que ele vai ter que esperar mais um pouquinho para receber o que se deve.

Numa escala um pouquinho maior, a montadora GM (que eu acho que no Brasil a gente conhece mais como Chevrolet), tem atualmente bens avaliados em 82,9 mil milhões de dólares, metade do valor total da dívida que carrega, que chega a 172,8 mil milhões de dólares.

Depois de tomar um empréstimo do governo, a empresa deveria ter entregue um plano de reestruturação da empresa que convencesse, até o dia 1 de junho. Nada saiu da cabeça dos administradores da GM, maior montadora dos EUA e segunda maior do mundo, que só tinha uma saída: pedir concordata.

Concordata, segundo o Aurélio, é um benefício legal (ou seja, é tudo feito através do sistema judiciário, representado por um juiz) que é dado ao negociante insolvente (falido) e de boa fé (que possa provar que vai dar um jeito na situação, e não está só querendo sair de mansinho de suas responsabilidades) e que obriga o sujeito a lidar com as dívidas que tem conforme a sentença (decisão do juiz).

A GM pediu protecção sob abrigo do Capítulo 11 da Lei americana de falências e concordatas. De acordo com esse capítulo, a montadora continua funcionando normalmente, mas ganha um período de proteção contra credores para se reestruturar. Esta falência surge precisamente para que a fabricante de automóveis se torne mais competitiva.

Após este pedido de concordata, a GM vai ficar agora, maioritariamente nas mãos governamentais. Os EUA deverão ficar com 60% do capital, depois de converter a maioria dos 50 bilhões de dólares de empréstimos, e o Canadá com 12%.

Após este processo será criada uma nova empresa que vai ter veículos das várias marcas da GM (Cadillac, Chevrolet, Buick e GMC) mas agora com uma missão mais direcionada para carros pequenos e eficientes no que diz respeito ao consumo de combustíveis.

Um dos motivos do declínio da GM, pelo que dizem por aí alguns especialistas, foi o mix de produtos, concentrado em automóveis que consomem muito combustível. Com a alta do petróleo e a preocupação com o aquecimento global, a montadora foi perdendo participação de mercado. E com a adoção de novas exigências de milhagem por litro, fabricar carros econômicos é ainda mais importante.

Fundada há 101 anos, a GM foi a maior vendedora de veículos no mundo entre 1931 e 2008, quando a japonesa Toyota a ultrapassou. Mergulhada numa crise sem precedentes — agravada pelo derretimento financeiro mundial iniciado em 2008, mas originada em procedimentos e estratégias empresariais muito questionados, como insistir na fabricação de picapes e SUVs beberrões e poluidores –, a GM começou este ano devendo bilhões de dólares, inclusive ao Tesouro dos EUA, e enfrentando dificuldades para fechar acordos com seus credores.
Outro fator de declínio da GM foram os custos trabalhistas – a mão de obra sindicalizada da montadora era muito mais cara que a de concorrentes como a Toyota. Com a concordata, é possível renegociar uma série de contratos.
No primeiro grande sinal da derrocada, no final do ano passado a General Motors teve de publicar um histórico anúncio admitindo vários erros, fazendo uma auto-crítica arrasadora e, finalmente, explicando aos cidadãos dos Estados Unidos porque se via no direito de pedir dinheiro público emprestado para sair do buraco.

O processo de reestruturação da GM inclui o fechamento de diversas fábricas e unidades nos EUA e o consequente corte de postos de trabalho — as demissões podem chegar a 20 mil, numa estimativa algo conservadora. Ao menos 11 unidades estão com os dias contados, entre elas, cinco fábricas de motores e estamparias, que devem encerrar suas atividades em 2010. Numa medida do que a quebra e severa reestruturação da GM podem fazer com a cadeia produtiva automotiva, cerca de 100 mil empregos podem ser perdidos nas revendas do grupo que serão fechadas nos próximos anos – até 6.000 lojas nos Estados Unidos estariam ameaçadas.

A esperada diminuição da produção, do catálogo de produtos e das vendas gerais da GM devem não só impedir que a empresa recupere a posição de maior do mundo no setor automotivo, como também fazer com que seja ultrapassada domesticamente pela própria Toyota e, num segundo momento, pela Ford – que então se tornaria a maior montadora dos EUA.

A companhia anunciou que não fecha a montadora do Brasil que fará parte do que está sendo chamado de a “Nova GM”.

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