EUA em crise - e eu com isso?
Desculpem a ausência dos últimos dois dias, mas tenho passado o dia inteiro antenada ao que acontece em Wall Street. E, como muitos por aqui, perplexa fiquei ao final do dia de segunda-feira, quando o Congresso americano vetou o pacote de ajuda financeira proposto pelo governo.
A consequência para os EUA foi visível e mais está para vir. Alguma solução vai ter que ser apresentada, porque o país não vai segurar uma crise dessas por muito tempo. Então, depois que os políticos - que, na sua maioria, são iguaizinhos em qualquer lugar do mundo, isto é, egoístas, egocêntricos e atraídos por câmeras de televisão - que votaram contra a proposta, perceberam a porcaria que fizeram, já enfiaram os rabinhos entre as pernas e estão prontos a votar a mesma proposta - com alguma modificaçãozinha - no fim do dia de hoje.
Mas, o estrago está aí. E muita gente do que aqui eles chamam de “Main Street”, ou seja, o povão, fica se perguntado: “se tudo continua na mesma, então por que é que eu tenho que me preocupar com o que acontece com Wall Street?”.
Já disse aqui que não sou especialista em economia mas, como toda boa jornalista, sou especialista em generalidades, então vou tentar explicar porque você, quer esteja nos EUA ou no Brasil deve SIM se preocupar, se informar e agir caso precise, nesse momento. E porque esse pacote é tão importante para o país e para o mundo.
O que está acontecendo aqui, de forma geral, é um aperto no crédito. Que, como uma bola de neve, vai acabar afetando todo mundo. Vou usar o exemplo que foi dado na segunda-feira, no jornal televisivo daqui, cujo video está nesse link, prá quem quiser assistir.
O que ocorre numa economia funcionando da forma que deve é mais ou menos isso:
Digamos que um certo banco tem 100 dólares guardados. Numa economia sadia, os bancos emprestam esses 100 dólares, digamos, para um agricultor que, agora com esse dinheiro, vai poder comprar sementes das pessoas que as vendem, e um trator das pessoas que vendem tratores, agrotóxicos das lojas que vendem agrotóxicos, e por aí vai.
Essas pessoas que venderam para o agricultor geralmente vão pegar esses 100 dólares e comprar outras coisas e também vão colocar um pouco do dinheiro no banco que, com mais dinheiro, vai poder emprestar para um dono de restaurante, por exemplo. O dono do restaurante vai usar esse dinheiro prá comprar carne do açougueiro, e pão do padeiro, e mesas do carpinteiro…
Da mesma forma, essas pessoas vão usar parte do dinheiro que receberam do dono do restaurante prá comprar coisas e um pouco prá colocar numa poupança num banco, que de novo vai ter dinheiro prá emprestar prá outras pessoas.
Ou seja, em bons tempos, de economia saudável, aqueles 100 dólares vão pulando de mão em mão e toda vez que esse dinheiro pula, mais pessoas têm mais trabalho.
Mas, aí, com a crise dos empréstimos - que aconteceu porque as pessoas começaram a não pagar os empréstimos que fizeram por infinitas razões- , os banqueiros começaram a ficar nervosos porque o risco de emprestar dinheiro estava só aumentando. Eles começaram a se questionar se iam ser pagos pelos empréstimos que deram!
Então, eles começaram a diminuir os empréstimos, diminuindo a velocidade com que aqueles 100 dólares estavam pulando de mão em mão. A consequência é imediata no número de pessoas desempregadas, que aumenta, e até mesmo no tempo que essas pessoas ficam desempregadas, que também aumenta. E com mais pessoas desempregadas, menos dinheiro circula, porque menos pessoas podem comprar do agricultor, menos pessoas podem ir ao restaurante, e etc.
E aí, o pula-pula dos 100 dólares diminui ainda mais até que os bancos podem simplesmente parar de emprestar dinheiro por completo, o que seria um desastre global! É só você imaginar esse dólar numa escala mundial, de importações e exportações - afinal os EUA são sozinhos os maiores consumidores do mundo - que você vai entender como isso pode afetar você aí no Brasil!
Então, o que o pacote proposto pelo governo estava tentando fazer era comprar aqueles empréstimos ruins que os bancos tinham, prá colocar dinheiro nas mãos dos bancos de forma que eles voltassem a emprestar dinheiro de novo, como faziam.
Toda a discussão era de quanto pagar por esses empréstimos de forma que os bancos tenham o suficiente para voltar a funcionar normalmente mas ao mesmo tempo não muito, de forma que os contribuintes não acabem por ser responsáveis por pagar por aqueles que provocaram essa confusão toda.
Essa é uma explicação bem simplista mas nem por isso imprecisa. Acho que deu prá esclarecer um pouco a importância de estar informado a respeito do que acontece por aqui, não?
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